Os elefantes são animais enormes, lentos, vivem em bando e sofrem na hora de morrer. O espetáculo “Elefante”, de Walter Daguerre, inverte essa lógica: habitantes em um futuro indeterminado tomam pílulas e, assim, permanecem jovens. Evitam a morte, o sofrimento, a doença. E, com isso, evitam sofrer, mas também se alegrar.
Para quebrar essa lógica, Francisco, aparentemente um jovem fotógrafo, apesar de já estar com 65 anos, resolve largar a mulher, pai e mãe e viver em Seneca, local ainda não atingido pela medicação obrigatória. Lá descobre a morte, o ritual de solidariedade, a esperança, o afeto. Percebe que, como os grandes animais, o homem também deve pagar um tributo à vida ao homenagear a morte.
Um dia, Francisco resolve voltar para morrer junto ao seu bando. E volta com a sua idade real. Sua mulher não sabe o que fazer. Pai e mãe se desesperam. Como amparar quem parece mais velho do que eles e evoca tudo o que vêm tentando esquecer? Como perceber a limitação em uma sociedade que apaga as fronteiras via medicina? Como ver a transgressão e sentir que é ruim ou que pode ser positivo?
“Elefante” comemora os três anos de existência da Probástica Cia. de Teatro e, ao explorar os meandros e as voltas entre positivo/negativo, viver/morrer, lembrar/esquecer, a companhia escolhe um “instrumento lúdico para o questionamento do valor da morte e do envelhecimento para o homem atual”. Atores não podem esquecer o texto como os elefantes não esquecem. Homens não podem esquecer que o inesperado, a surpresa do momento em que tudo se acaba é o sal da vida.
Serviço
Teatro Ipanema
Quintas, Sextas e Sábados, 21:00
Domingos, 20:00