A história dela e da família confunde-se com a do cinema nacional. Lucy Barreto é uma das mais importantes produtoras do País; de suas mãos, saiu a aprovação para mais de 50 filmes. É uma paixão e uma vocação. No próximo dia 05 de novembro, ela recebe a Comenda da Ordem Social, entregue pelo Ministério da Cultura. No dia seguinte, já embarca para Nova York, onde vai lançar “Flores Raras” (com Glória Pires, sobre a história de Elisabeth Bishop e Lota de Macedo Soares, em cartaz no Brasil desde agosto), que também será exibido em Los Angeles. Com direção de Bruno Barreto, filho de Lucy, o filme vem recebendo elogios tanto da crítica quanto das mais variadas pessoas, que não entendem de cinema, mas sabem quando estão assistindo a uma grande história. Lucy é assim: prática, como diz, e não gosta de perder tempo. Não faz planos para o futuro, vive o presente, sem expectativas e nem especulação.
Mulher de muita fé, reza todas as manhãs e, à noite, passa o dia a limpo – a preocupação é com o outro filho, Fábio Barreto, que vive em estado de semiconsciência há quatro anos, desde que sofreu um violento acidente em Botafogo. A família está experimentando um novo tratamento para o cineasta, desenvolvido por cientistas de Boston, com estimulação elétrica e medicamentosa. “Ao fim de cada dia me pergunto: ‘Fiz o melhor que podia hoje? Aí, entrego a Deus’”, diz ela. Talvez não por acaso, o carro e a velocidade sejam o medo confesso de Lucy, como admite em entrevista ao ‘saite’, na seção “Invertida”.
UMA LOUCURA: “As loucuras da minha infância em Minas. Fui criada por uma mãe muito jovem, com liberdade e confiança, solta, brincando nas ruas de minha Araguari. Já dizia Otto Lara Rezende, os ’porões de Minas Gerais’. As loucuras eram cometidas por ali; loucuras precoces”.
UMA ROUBADA: “Roubada é não viver o presente. Pra qualquer pessoa, meu lema é: ‘só por hoje’. Quando estou no escritório e chega uma boa notícia, digo: ‘vamos desarmar a barraca; todo mundo pra casa, gozar a boa noticia’“.
UMA IDEIA FIXA: “Paz, harmonia com minha família – a coisa mais importante da minha vida. Faço tudo pra isso”.
UM PORRE: “Acho um porre a proximidade com pessoas de baixo astral; eu evito, mas a gente não pode se livrar disso. Minha avó era espírita e chamava isso de espírito zombeteiro. Tô fora deles”.
UMA FRUSTRAÇÃO: “Não ter sido uma pianista… mas, não é exatamente uma frustração; ficou no passado. A música e o cinema, com Luiz Carlos, são as alegrias de minha vida“.
UM APAGÃO: “Apago as coisas e as pessoas (são poucas) que me desagradam”.
UMA SÍNDROME: “Não posso ver nada torto, fora do lugar, mas estou melhorando. Se estou na casa de alguém e vejo um quadro torto, conserto na hora. Mas, tento me conter também”.
UM MEDO: “Medo de carro. Não viajo de carro, tenho medo de velocidade, mas, por incrível que pareça, não tenho medo de avião. É um dos lugares onde fico tranquila, posso ler e escrever e, o melhor, não tem telefone. Telefone é o diabo na vida da gente”.
UM DEFEITO: “Meu defeito é a impaciência. Minha filha Paula e eu somos muito rápidas. Fico nos cascos com a lentidão”.
UM DESPRAZER: “Barulho, poluição sonora. Tenho horror de pessoas que falam alto. Implico, por exemplo, com essas músicas ambientes; penso que é uma invasão. Nos restaurantes, são impostas à gente”.
UM INSUCESSO: “Tenho alguns, mas como dizem os meus amigos, sou uma irremediável otimista”.
UM IMPULSO: “Como boa geminiana, tenho um pé na terra e outro no céu. Impulsos sim, mas um pé está na terra”.
UMA PARANOIA: “Não sou paranoica. Sou prática. Tem duas palavras que não existem na minha vida: especulação e expectativa. Gosto de lidar com fatos. E construo a minha vida dia a dia, no presente”.