Tudo muito informal. Cool and clean. Uma situação daquelas conversas que começam com assuntos totalmente lugar comum e criam uma intimidade entre pessoas que jamais se viram. Você é interlocutor da conversa, mas, de repente, vira espectador, totalmente excluído. O narrador fica lá: falando, falando, contando, contando. E seus olhos vão crescendo; sua atenção redobra, sua adrenalina dispara. Assim é Cine Monstro, o monólogo do autor canadense Daniel MacIvor, em interpretação magistral de Enrique Diaz.
Aparentemente um mosaico de várias histórias, pequenas tragédias de consequências terríveis, sem qualquer ligação, Cine Monstro é como se estivéssemos vendo um filme que se monta como um quebra-cabeças. Assim, a opção de Enrique Diaz de chamar a peça de Cine Monstro – o nome original é Monster – esclarece que se trata de um jogo entre voyeurs. São diferentes personagens contando coisas que assistiram: assassinatos, sessões de AA, roubo de roteiros e até mesmo um filme.
“Ele trabalha com vários elementos que me são comuns”, destaca Enrique Diaz falando sobre Daniel MacIvor, de quem já montou outras duas peças. “Eu me reconheci muito no texto, numa história que é contada dentro de outra história, e os personagens dessas duas camadas, embora por um outro momento tenham trajetórias independentes, acabam entrelaçados. “
E são essas duas camadas que vão num crescendo. Parricídio, vícios, casais que não se suportam, artistas sem escrúpulos, fatos contados de dentro para fora, quebrados em pequenos pedaços de bordas irregulares, o que dificulta a montagem do quebra-cabeça. E Enrique Diaz encena todos os narradores que não nos dão trégua: nos empurram para baixo da cama, para cobrirmos a cabeça com o travesseiro. O monstro nos rodeia, mostra seus dentes , deixando apenas uma camada. E aí, quando olhamos com o canto do olho, o bicho papão está lá e tem as garras sobre nós. O monstro se revela e não podemos mais nos esconder.
Serviço
Oi Futuro Flamengo
Sexta , sábado e domingo – 20 horas