Pertenço à juventude dos ‘Anos Dourados’, em que as moças não precisavam fazer faculdade, mas, sim, praticar “prendas domésticas”, dançar balé, aprender francês e piano. Não saiam sozinhas com rapazes, mas namoravam a sério, noivavam e casavam na igreja; a virgindade era um tabu inquestionável para a “moça direita”.
Os colégios eram dirigidos por freiras católicas, rígidas e acusadoras: tudo era pecado. Homem era pecado! A culpa que provinha das sensações corporais era mitigada em confessionários onde os padres excitados ouviam os relatos das primeiras experiências de nossos contatos com o sexo oposto. As primeiras tentativas de masturbação eram acompanhadas pelo medo do deus punitivo e vigilante – presente até dentro do banheiro – e que servia de freio às experiências das mais ousadas.
A geração atônita que viu surgir os primeiros programas de televisão na tela cheia de fantasmas em preto e branco, que dançava nos “arrasta-pés” de fim de semana nas casas de família, sempre regados a pipoca e guaraná, ao som da vitrola moderna que alternava entre os long-plays de Doris Day, Nat King Cole e Frank Sinatra, que falavam do amor pós-guerra.
O fim do ano era ansiosamente aguardado, na disputa pelos convites dos bailes de formatura quando rodopiávamos ao som das orquestras românticas, os vestidos a rigor ‘tomara-que-caia’ bordados em vidrilhos ou lantejoulas; o flerte inocente com os elegantes rapazes de smoking e Gumex no cabelo que, depois de algumas cervejas a mais, se atreviam a roubar beijos de suas amadas, nos cantos menos iluminados dos jardins dos clubes. Tudo mudou depois do filme Juventude Transviada, apresentando Bill Halley & The Commets, seguido por Elvis Presley e sua guitarra, com direito a trejeitos e topete. A era do rock. As saias deram lugar aos blue-jeans e às camisetas.
Mudou a dança, mudou a roupa, mudou o comportamento. E os pais sentiram medo por seus filhos… Fazendo contraponto à febre do rock nos jovens barulhentos e rebeldes, surgiu o movimento da bossa nova, o violão tocando baixinho e as melodias românticas em pequenas rodas. Nos reaproximamos do amor e o mundo parecia seguro outra vez.
Do namoro convencional, os beijos começaram a ficar inflamados, permitindo que mãos ousadas passeassem pelo decote do vestido, ou por debaixo das saias volumosas, proporcionando novas e deliciosas sensações acompanhadas de velhas e assustadoras culpas.
Os momentos dentro do carro estacionado no Arpoador, assistindo ao que costumava-se chamar “corrida de submarinos”, eram aguardados com ansiedade e medo…
Entre o “o barquinho vai” e “o barquinho vem”, e os namoros mais audaciosos, as jovens mais moderninhas começaram a cogitar a entrada nas faculdades, onde, além de estudar, namoravam e discutiam política; viraram moda os pequenos barzinhos com música ao vivo que substituíram os “arrasta-pés”, assim como algumas boates; surgiram os primeiros biquínis com 4 dedos de barriga de fora e a virgindade… bem, o barquinho levou.
Medo. Culpa! E agora? O medo de uma gravidez indesejada era controlado pela camisinha, muitas vezes furadas com o ímpeto juvenil. E finalmente chegou a pílula!!!
As feministas exacerbadas tomaram conta do mundo e da mídia, derramando um ódio virulento contra os homens, vingando-se dos séculos de repressão consentida. O homem ganhou o espaço e aterrissou na Lua; a mulher ganhou espaço e aterrissou na Terra.
Observo as mudanças no mundo, cada vez maiores, e uma nova família se formando, as uniões dos seus, os meus e os nossos, ou aquelas desejosas de curtir o seu instinto maternal, sem as inconveniências de um marido castrador, partem tranquilas para a “produção independente”, tornando cada vez maior o número de mulheres provedoras, independentes e solitárias, acumulando várias funções; a caça preferida são os homens, cada vez mais raros, que por sua vez, se queixam da agressividade feminina no jogo da conquista, surpresos e muito amedrontados.
Mudaram o mundo, a política, as guerras; a clonagem, a pesquisa com células tronco e o terrorismo são as novas ondas ameaçadoras. A comunicação instatânea entre os continentes.
Medo. Muito medo. Devastação das florestas, redução da camada de ozônio, falta de água no Planeta Água … Falta de dignidade, moral e honestidade nos Poderes. Violência em todos os lugares. Será possível? Medo.
O futuro tornou-se presente e nos pegou desprevenidos e despreparados para enfrentar uma nova maneira de viver e ser. Temos que reinventar o nosso mundo hoje, e já o fazemos atrasados… Mas, como?!