Regina Navarro Lins é escritora, psicanalista e sexóloga carioca, ex-professora de Psicologia da PUC-Rio, ex-colunista do Jornal do Brasil e do Jornal da Tarde. É também autora de 11 livros sobre relacionamento e vida sexual, além de brilhar como pensadora das relações amorosas. O último, que vai muito bem é “O livro do amor”, lançado em agosto (editora Best-seller). Seu consultório, em Copacabana, está sempre lotado, tanto quanto as palestras que costuma fazer pelo Brasil inteiro – interessados, podem mandar e-mail para ([email protected]).
Regina faz atendimento ainda como terapeuta de casais. Atualmente, tem programa na Rádio Sul América Paradiso, assina coluna no jornal O Dia e está no ar no programa “Amor e Sexo”, da Rede Globo, como psicanalista contratada. Não por outra razão, muitos esperam para ouvir suas opiniões, sempre tão atuais e adequadas.
UMA LOUCURA: “Acho uma loucura o sexo não ser visto como algo bom, natural, desejável. Isso limita a vida das pessoas e gera sofrimento. É fundamental que todos reflitam a respeito das crenças e valores aprendidos e se livrem do moralismo e dos preconceitos. Isso se quiserem viver melhor, com mais satisfação e prazer.
UMA ROUBADA: “Ansiar para viver um amor romântico é uma roubada. Esse tipo de amor é calcado na idealização. Você conhece uma pessoa, atribui a ela características que ela não possui. Na convivência diária, não é possível manter a idealização; você é obrigada a perceber no outro aspectos de que não gosta nem um pouco. Aí surge o desencanto e a sensação de ter sido enganada. Por isso há tantos ressentimentos e mágoas num casamento.”
UM PORRE: “Numa discussão sobre amor e sexo, ter que ouvir os conservadores discordarem sem nenhum argumento, baseados em ‘achismos’. Ou então, por não saber discutir ideias, ver que muitos partem para agressões sobre a minha vida pessoal, do tipo: ‘ela é mal-amada…'”rs.
UMA FRUSTRAÇÃO: “Quando alguém está amando duas pessoas ao mesmo tempo e se vê obrigada a ter que escolher uma delas. Isso acontece com frequência. Acredito que, daqui a algumas décadas, será bem comum se relacionar com mais de uma pessoa, e essa frustração será evitada.”
UM APAGÃO: “Quando alguém tece um comentário, tentando conquistar alguém e é contestado sem ter como contra-argumentar.”
UMA SÍNDROME: “A da mulher casta. Há mulheres que, para corresponder ao que imaginam que o homem espera delas, dão vários tipos de demonstração de que sexo não tem importância alguma para elas. Isso se explica na medida em que a mulher foi educada para ser frágil, desamparada, necessitando de um homem ao lado para dar sentido à sua vida. É claro que muitas já se libertaram disso, mas ainda há aquelas com dificuldade de experimentar uma nova forma de viver e, por isso, se agarram aos padrões de comportamento conhecidos – o novo e o desconhecido assustam. É preciso que lutem para se libertar disso.”
UM INSUCESSO: “Já vi pessoas que tiveram a sensação de ter tido um insucesso quando, depois de lutar para se libertar de valores morais que limitavam a sua vida amorosa e sexual, voltaram atrás por temer a crítica das pessoas próximas.”
UM IMPULSO: “Impulso é o que nos move diante do intenso desejo por alguém, quando, mesmo correndo riscos, abrimos mão da cautela.”
UM MEDO: “Da intimidade. Muitos supõem que a intimidade os tornará totalmente vulneráveis – principalmente os homens, ainda submetidos à ideologia patriarcal, ou seja, homens machistas. Geralmente eles estabelecem, no máximo, intimidade sexual com suas parceiras, nunca intimidade emocional. Para esses, a intimidade é vista como um sinal de fraqueza. Mas, ao contrário de outros contextos em que a vulnerabilidade significa fraqueza e desproteção, na intimidade podemos mostrar nossas fragilidades sem temer qualquer constrangimento ou humilhação, ou seja, sem temer um ataque. O filósofo alemão Theodor Adorno sintetiza muito bem essa ideia ao afirmar que só nos ama aquele junto a quem podemos nos mostrar fracos sem temer a força. ”
UMA IDEIA FIXA: “A preocupação da mulher com o corpo, acreditando que só ele sendo perfeito ela será desejada pelos homens. E, nos homens, a preocupação com o tamanho do pênis.”
UM DEFEITO: “Defeito, pra mim, dá só em máquina, mas normalmente essa palavra é usada quando nos referimos a algum aspecto que não aceitamos no outro. É importante saber que as pessoas são do jeito que são; temos que escolher se queremos nos relacionar ou não com essa pessoa. O que não dá é ficar a vida inteira querendo transformar o outro.”
UM DESPRAZER: “Freud dizia que existem duas formas de buscar a felicidade: evitar a dor e o desprazer ou buscar intensamente o prazer. Penso que evitar o desprazer é pouco – devemos tentar, sempre que possível, bani-lo da nossa vida. As pessoas têm muita dificuldade em buscar o prazer, afinal, na nossa cultura, o prazer nunca foi visto com bons olhos. A virtude sempre foi o sofrimento. Está mais do que na hora de mudar isso, né não?”
UMA PARANOIA: “Existem muitas mulheres que têm paranoia do sexo no primeiro encontro. É comum uma mulher ficar de abraços e beijos ardentes com um homem numa festa, mas, quando ele a convida para ir a um motel, ela reage, dizendo que não sente vontade de fazer sexo no primeiro encontro. Isso não é verdade. Ela sente muito desejo de fazer sexo com ele, mas é mais uma demonstração de submissão ao homem, medo deque ele não ligue no dia seguinte.”