A exposição “Até que a rua nos separe”, que vai reunir alguns dos expressivos trabalhos da dupla Maurício Dias e Walter Riedweg a partir de quinta-feira (16/08), no Centro de Artes Hélio Oiticica, no Centro, revela uma estatística apavorante. Um dos trabalhos, “Devotionalia”, apresenta 1.925 cópias em cera de mãos e de pés (os chamados ex-votos) feitos por meninos de rua em 1995. “Era uma época violenta, quando aconteceram as chacinas da Candelária, de Vigário Geral e tantas outras. Hoje, apesar de o número ter diminuído, a violência caiu no lugar-comum”, opina Maurício. Das 600 crianças com quem tiveram contato, dez anos depois descobriram que mais da metade delas havia morrido de forma violenta.
O artista conta que ele e Walter montaram um ateliê ambulante e percorreram 18 pontos da cidade, entre ruas e favelas, de Niterói à Zona Oeste, passando pelo Centro, durante aquele ano. “Junto com os ex-votos dos próprios pés e mãos, eles falavam seus desejos, que eram os mais diferentes: ‘Quero uma bicicleta’, ‘Quero uma casa’, ‘Quero uma mãe’”, lembra Maurício.
A primeira exposição foi em 1996 no Museu de Arte Moderna, com mais de 3 mil pessoas levadas pelas próprias crianças. Dez anos depois, os artistas voltaram às ruas para descobrir o paradeiro delas e deram de cara com o número estarrecedor. “Encontramos também alguns deles já empregados ou ligados a ONGs. Considero não como um trabalho de arte, mas sim de testemunho de existência”, define. Os trabalhos de “Devotionalia”, que foram doados ao acervo do Museu Nacional de Belas Artes em 2004, podem ser vistos no Centro de Artes Hélio Oiticica até o dia 30 de setembro.
As obras “Caminhão de mudança” e as videoinstalações inéditas da série “Pequenas estórias de modéstia e dúvida” também fazem parte da exposição “Até que a rua nos separe”.