Paloma Amado está gostando muito da nova versão de “Gabriela” (de Walcyr Carrasco) e acha que seu pai, Jorge Amado, também estaria sentindo o mesmo: “Papai não era de assistir a novelas, mas certamente estaria gostando. Como alguém pode não admirar o Nacib romântico e apaixonado de Humberto Martins? Como não admirar o riso lindo e a covinha da Gabriela de Juliana Paes? Como não gostar do peso e ao mesmo tempo da leveza que Maitê Proença está dando à sua personagem?”, pergunta ela, enquanto lembra uma frase do escritor: “Toda adaptação é uma recriação”.
Diz ficar triste quando ouve críticas: “Só pode ser preconceito contra a TV”, afirma. Está feliz também pela grandiosidade da produção: “Atinge um número muito grande de pessoas, ainda mais num país em que se lê pouco, como o Brasil“. Paloma “amada”, como brincam alguns amigos, tal a sua delicadeza, ética e serenidade, atualmente circula tanto no Brasil quanto no exterior, participando das homenagens e fazendo palestras sobre o centenário de Jorge Amado. No fim deste mês, por exemplo, parte para a Alemanha – tem uma festa em homenagem ao escritor na Universidade de Berlim. Nesse meio tempo, continua tocando seus projetos literários: está escrevendo três novos livros – um infantil, sobre um pássaro; um novo sobre gastronomia e um “infanto-senil”!, contando a louca aventura de um amor de infância que veio a se concretizar na maturidade. O primeiro e o último são ilustrados por ela. Leia sua “Invertida”:
UMA LOUCURA: “Casar, de um dia para outro, aos 56 anos, com o primeiro namorado, que não via há 40 anos. Durou 3 anos cheios de loucuras adolescentes. Terminou de repente, como começou, mas foi ótimo!”
UMA ROUBADA: “Penso, penso e não acho uma roubada. Muita coisa ruim aconteceu na minha vida, mas de todas elas consegui tirar coisas boas, donde… Não foram roubadas!”
UMA IDEIA FIXA: “Transformar a nossa casa, no Rio Vermelho, onde meus pais viveram os últimos 40 anos de vida, em museu, o Memorial Jorge Amado. Será um presente para os leitores e admiradores deles, que poderão conhecer a intimidade do casal, obras de arte que colecionaram, o jardim que plantaram juntos. Temos, meu irmão e eu, feito o nosso melhor, mas a empreitada é grande, e nós não conseguimos nenhum apoio de nenhuma ordem. Chega a ser inacreditável o desinteresse de quem procuramos; mas não vamos jamais abandonar o projeto.”
UM PORRE: “A onda do “politicamente correto”: pura hipocrisia. Tenho horror desse patrulhamento. Quanto a um porre etílico, uma vez, quando trabalhava na campanha presidencial Tancredo/ Sarney, tomei um porre que me fez não poder, nunca mais, provar qualquer licor que fosse. Foi assim: trabalhava com Roseana Sarney, em cuja casa estava hospedada. Uma noite, chegamos cedo do Comitê, estava friozinho, nós resolvemos relaxar, jogando um buraquinho, e abrimos uma garrafa de Cointreau. Fomos dormir às 4 da manhã, quando a garrafa esvaziou. Não fiquei nem tonta, mas foi a maior dor de cabeça de minha vida.”
UMA FRUSTRAÇÃO: “A minha carreira teatral – queria ser atriz. Aos 10 anos, fiz um teste para a peça “O Milagre de Ana Sullivan” e não passei. Fiquei triste, frustrada, certa de que não tinha talento. Desisti. Trinta anos depois, soube pela Camila Amado, que trabalhou na peça, que o meu teste foi o melhor e que foi Glauce Rocha, muito amiga da minha família quem não deixou me chamarem por eu ser muito magrinha (já fui magrinha!) e frágil. Temia que eu me machucasse. Na verdade, me machucou muito mais.”
UM APAGÃO: “Me defendo, provocando apagões gerais do que me é muito desagradável, lugares onde vivi e fui maltratada. Com o advento das redes sociais, alguns raios vêm iluminar as áreas escuras. Busco não me importar com elas.”
UMA SÍNDROME: “Síndrome da pontualidade. Ser pontual é ótimo, mas, quando vira doença, a gente passa a chegar às festas com a dona da casa ainda no banho. É uma síndrome que está no meu DNA. Papai era apressadíssimo – chegava aos aeroportos com horas de antecedência, coisa que eu faço ainda hoje.”
UM MEDO: “Me considero uma pessoa destemida, a morte não me assusta. Já pus assaltante para correr, ameaçando dar porrada, mas temo pela paz de minhas filhas e de meus netos.”
UM DEFEITO: “Tenho muitos defeitos, mas o pior é o rancor. Sou pessoa com muita dificuldade de perdoar a quem me magoa profundamente, quem é ingrato e injusto. Chego a negar cumprimento.”
UM DESPRAZER: “Qualquer tipo de preconceito. Seja de raça, seja de religião, seja mesmo contra novela de TV. Hoje assistimos a essa belíssima adaptação de Gabriela na Globo, mas tem gente que vem falar por puro preconceito. Escutar críticas sobre Gabriela é um desprazer.”
UM INSUCESSO: “Minha “papelaria”, a ‘Que Papelão, Oficina de Artesanato Gráfico’. Os meus produtos fazem sucesso, mas sou incapaz de comercializar; daí fica caro e impossível de continuar.”
UM IMPULSO: “Sou impulsiva por natureza, um impulso recorrente é dar de presente as minhas coisas quando as pessoas se encantam com elas e elogiam. Tem um certo colar feito de elásticos da Parceria Carioca que eu já comprei mais de 20 (não é caro), pois a cada elogio, e são muitos, eu tiro do pescoço e dou.”
UMA PARANOIA: “Não sou de paranoias. Não creio que me desejem mal, mas não consigo deixar de temer que maltratem meus netos.”