Muita gente acha que política e ética quase sempre são incompatíveis, até lembrar de alguns nomes, como Fernando Gabeira, dono de biografia conhecida de todo mundo. O jornalista, escritor, antropólogo e “carioca” de Juiz de Fora não virou prefeito do Rio nas últimas eleições por pouco, muito pouco. Perdeu esse título, mas é dono de outros tantos que ninguém jamais poderá tirar-lhe: foi membro-fundador do Partido Verde, lutou contra a Ditadura Militar, foi também o deputado federal mais votado do Rio em 2006!
É ainda grande defensor de minorias; como exemplos, podem ser citados sua defesa da profissionalização da prostituição, do casamento homossexual (muito antes de Barack Obama) e da descriminalização da maconha. Mais que isso: Gabeira é certamente um dos nomes que primeiro vêm a cabeça de todo mundo quando se fala de cidadania (além de ser a cara de Ipanema) tanto quanto da questão ambiental – sempre um dos principais temas de sua militância política. Ecologia, natureza, sustentabilidade, Rio+20, assuntos tão falados de certo tempo pra cá, são coisas antigas na voz de FG. Talvez seja até leviano escrever sobre ele de um jeito tão breve num espaço tão curto.
Vamos à pequena entrevista:
UMA LOUCURA – “Sob alguns aspectos, enfrentar a ditadura militar ao lado de um pequeno número de combatentes foi uma loucura compartilhada que nos valeu cadeia, tortura, exílio mas contribuiu para desgastar um regime que durou 30 anos”.
UMA ROUBADA: “Durante as campanhas políticas, muitas vezes fomos a lugares com promessa de que haveria gente mas encontravamos apenas o candidato proporcional que nos convidou e alguns familiares com bandeirinhas. Não chamávamos de roubada e sim de cilada”.
UM PORRE: “Ao longo de 16 anos na Câmara as sessões mais desinteressantes eram aquelas em que alguns partidos declaravaram obstrução e faziam tudo para retardar e evitar que alguma coisa fosse votada. Sabíamos que passaríamos um longo dia debatendo questões insignificantes e que a única vitória que nos esperava no principio da madrugada era sair dizendo que não aconteceu nada”.
UMA FRUSTRAÇÃO: “Frustração foi a derrota nas eleicões para prefeito do Rio, em 2008, foi diferente das outras porque havia chance de vitória e muita esperança popular”.
UM APAGÃO: “Na minha idade, tenho dois inimigos ao sair: as chaves e os óculos. Esqueço tanto onde os deixo que acabo por fixar lugares para eles. Uma das grandes interrogações que tenho em caso de vida pós-morte é descobrir para onde foram todas as canetas que perdi.”
UMA SÍNDROME: “Depois de viver parte da vida adulta com uma ditadura militar no País, a síndrome do autoritarismo é a mais importante a combater.”
UM INSUCESSO: “Insucessos e pequenas vitórias são tantas que a gente até esquece. E, felizmente, os outros também.”
UM IMPULSO: “Comprei um equipamento analógico na aurora da revolução digital. Era uma Hasselblad XPan. Felizmente era tão boa que consegui vendê-la, através de amiga, numa loja de segunda mão em Nova York. Não tinha mais condições, sobretudo tempo, de trabalhar com analógicas. Foi um impulso.”
UM MEDO: “Tenho medo de compreendermos as limitações da natureza tarde demais.”
UMA IDEIA FIXA: “Tenho ideia fixa em superar minha ignorância.”
UM DEFEITO: “Tenho o defeito de dizer coisas que me parecem interessantes, apesar das consequências.”
UM DESPRAZER: “Tenho desprazer em falar com atendentes do call center e seu permanente gerúndio: ‘estamos enviando’ etc.”
UMA PARANOIA: “Nos últimos anos, ninguém se deu ao trabalho de me perseguir. Alguns fantasmas tiraram férias.”