Quando uma visita ia embora da fazenda, minha mãe não era o tipo de mulher que logo que a pessoa virava as costas entrava em casa: de jeito nenhum. Ficava ali no balaustre ou até no gramado, do lado de fora, a dar adeus, até perder de vista o carro ou o cavalo do visitante. Mesmo de longe quando a gente olhava pra trás, lá estava ela, acenando: não havia briga, tristeza ou problema doméstico que mudasse isso. E independia se era alguém mais simples ou menos simples, mais poderoso ou menos poderoso, mais rico ou menos rico – não fazia distinção. Ao contrário de outras fazendas que mal a visita partia, o anfitrião sumia.
Existem coisas que a gente só se dá conta depois que vira adulto, essa foi uma delas. Só surgiu tal observação bem depois da adolescência. Achava esse gesto dela tão elegante e sempre reparei nele. Ninguém tem as mesmas atitudes a vida toda, mas essa ela teve. Faltava-lhe requinte, em algumas situações, na mesma proporção em que sobrava gentileza. Isso me lembrava um filme. Como, se eu nunca tinha entrado num cinema? Não tem explicação, mas parecia uma situação conhecida pra mim.
Associo essa cena à das grandes cidades quando alguém está rindo pra outra pessoa, muda a situação e o sorriso social e sem espontaneidade, some abruptamente. Ora, sorriso verdadeiro vai morrendo e não acaba tão repentino assim. Assim, minha mãe ia se despedindo aos poucos.
Quando ela brigava comigo, eu pensava em coisas boas que tivessem acontecido, para poder perdoá-la. Isso era o que primeiro vinha à minha cabeça: suas demoradas despedidas.