A pedido de alguns amigos, principalmente aqueles que vivem fora do Brasil, publico aqui meu artigo que saiu no jornal O Globo, nessa segunda-feira (25/10):
O secretário de Assistência Social, Ricardo Henriques, quer fazer o Estado dialogar com as favelas pacificadas, antes dominadas pelo crime. Devem ser muito boas tanto a ideia quanto a intenção. A única dúvida é: seria o momento adequado? A certa altura da entrevista à jornalista Carla Rocha, no Globo do dia 17, Henriques fala dos jovens que tinham algum laço com o tráfico, enrolando baseado ou carregando fuzil, exemplos dados por ele. Esse é o ponto: esses jovens, agora destronados de suas ocupações, vão ficar sentados esperando pela equipe da Secretaria? Sair correndo para tirar uma carteira de trabalho? Nem uma coisa nem outra. Certamente não, de jeito nenhum. Eles vão tentar uma nova ocupação, não tenha dúvida, mas dentro daquilo que conhecem bem, daquilo que lhes rende fácil, daquilo que dominam: o crime. A atitude imediata é essa, já que, de uma hora para outra (com a instalação das UPPs), esses garotos (às vezes, nem tão garotos assim) ficaram sem chão, sem tostão, sem eira nem beira. Afinal, precisam continuar sobrevivendo e, rapidamente vão arrumar outro “emprego” e nele crescer ‘profissionalmente’, digamos assim. Ou seja, o “vapor” de hoje pode ser o chefão de amanhã. O diálogo sugerido pelo Secretário deveria chegar junto com as instalações das Unidades Pacificadoras e não depois. De alguma forma, o Estado deveria até premiar aqueles que confessassem o desejo de abandonar esse submundo, oferecendo, em troca, uma âncora. Tudo imediato, sem esse intervalo entre a pacificação da favela e a chegada da assistência, senão fica um tempo vazio a ser preenchido. Não é por outra razão, que passaram a surgir os arrastões nos mais variados pontos do Rio; não é por outra razão, que o número de assaltos a pedestres aumentou; não é por outra razão, que começaram a pipocar “pegadinhas” em áreas onde isso nunca acontecia. Na Praça Santos Dumont (na Gávea), por exemplo, esse tipo de assalto passou a ser rotina – basta pedir um levantamento da 15ª DP (isso, entre os que registram queixa; não são muitos). É o plano B na vida dos pequenos bandidos, ociosos e sem o dinheiro do tráfico que os sustentava. Sérgio Cabral disse, logo depois de reeleito, que uma das próximas favelas que serão pacificadas é a Rocinha. De duas uma: ou Henriques chega junto, ou os moradores da Zona Sul, principalmente Leblon, Gávea e São Conrado, ficarão reféns desses novos “desempregados”. E o resto da cidade também, talvez em menor escala. É só uma questão de adequação, o que pode livrar os cariocas de algumas angústias, para não dizer coisas muito piores. Com certeza, num futuro próximo, tudo isso pode aliviar esse pânico permanente, tão parceiro daqueles que vivem no Rio. Um destino para essa moçada (em sua grande maioria, do sexo masculino) pode melhorar ainda mais as tão faladas e bem-vindas UPPs, muito representativas nos 5.217.972 votos do governador, nas últimas eleições.