Rodrigo Trussardi descobriu suas possibilidades na moda, aos 19 anos, quando começou a desenhar camisas pros amigos, atraído pelo lado criativo e pensando, desde essa fase da vida, a ganhar seu próprio dinheiro. E foi atrás do que quer, sempre com aquele jeito, que, depois de meia hora de conversa, a gente já pensa em fazer igual, sabe? Sempre com olhar direto, entonação tranquila e jeito sereno. De tradicional família paulista, filho de Maricy e Romeu Trussardi (ele, ex-presidente da Associação Comercial de São Paulo), o sétimo de dez irmãos (sete meninas e três meninos), portanto cercado de mulheres por todos os lados, aprendeu a observar tudo com mais sensibilidade. Seu negócio foi crescendo; Rodrigo ficou conhecido no meio e começou a fazer coleções para outras marcas.
Mas a crise chegou com a era “Collor”, e ele foi obrigado a recomeçar quase do zero. “Teve muito cancelamento de pedido, e voltei a vender para os amigos”, diz. Em 2004, foi para o exterior. Estudou moda no Instituto Europeo di Design, em Milão; em seguida, no Fashion Institute of Technology, em Nova York. “Depois dessas experiências, descobri a possibilidade de ter uma marca minha”, diz. Assim nasceu a Super Suite 77, com peças limpas e cortes minimalistas. Sua grife é vendida em mais de 20 multimarcas e, em algumas fases, em lojas na Austrália, Canadá e Estados Unidos. Sempre promovendo eventos no Rio; desta vez, o desfile vai ser numa galeria de arte, da Luciana Caravello, em Ipanema, uma das mais bacanas do Rio, dia 20 de fevereiro. Leia sua entrevista.
Ao contrário de muitos de seus amigos que deixaram o Brasil num momento de crise, você voltou de uma temporada de sete anos em Nova York para investir na Super Suíte 77. Por quê?
Foram 12 anos de muitos voos! Nas crises, surgem muitas oportunidades. Para mim, veio pela sociedade que fiz recentemente com um amigo de muitos anos, o Sérgio Amaral Santos – fato determinante para meu retorno.
O que o move quando cria uma coleção?
Sou um curioso. O novo desperta meu interesse! Uma viagem, uma pessoa, um filme… um novo hábito! Tudo pode ser uma ideia a ser desenvolvida. Mas, numa coleção, é muito importante adaptar o novo à essência do estilo pessoal.
Como descobriu a moda?
Sempre achei que a moda é uma maneira de se mostrar pro mundo, respeitando quem você é. A moda está além da roupa em si: levo em conta as premissas básicas, considerando a elegância de maneira abrangente, como a solidariedade, o olhar pro outro, a educação, sempre observando as opiniões diferentes da minha. Claro, sabendo que a roupa tem, de certa forma, o poder de nos inserir onde queremos fazer parte ou causar uma impressão, tentando cultivar o belo, que atrai, porém, mais do que nunca, trazendo bem-estar.
Teve apoio total da sua grande família ou tentaram tirar essa ideia da sua cabeça?
Nasci numa família têxtil, convivi no universo da moda desde sempre. No início, meus pais preferiam que eu continuasse no negócio da família (tecido e lençóis), mas preferi seguir meus instintos pessoais, e as oportunidades foram surgindo. Família grande nos acostuma ao movimento, a pouca rotina, contato com muitas pessoas. Acho que isso me ajudou a respeitar o espaço e as diferenças dos outros. É também muito bom para se fortalecer, pois a atenção era compartilhada com muitos.
Você se divide entre Nova York, São Paulo e Rio. Qual a diferença no consumo da moda nesses lugares e qual mais o atrai?
O mundo hoje é muito conectado, e as distâncias “diminuíram”. O fator determinante é o clima. No entanto, atualmente, mais do que nunca, a mobilidade é grande, daí chamar minha nova coleção de “Nomad”. As ideias são muito globalizadas. As três cidades me atraem: o Rio, pela beleza e descontração; São Paulo, pelas minhas raízes e seu dinamismo; NY, por ser a capital do mundo. Esse mix me ajudou a me “construir”.
Você tem sempre eventos no Rio. Como as cariocas têm reagido? Quando é o próximo?
Tenho um carinho muito grande pelo Rio. O Rio sempre foi generoso comigo, seja no trabalho, amizades, seja com sua beleza, que não me cansa. Venho fazendo eventos no Copacabana Palace há dois anos, e, com a ajuda das minhas irmãs Glória (Severiano Ribeiro) e Clara (Magalhães) tem sido um grande prazer. Essa coleção de inverno faremos na Galeria Luciana Caravello, amiga de muitos anos, agora em fevereiro.
Em suas campanhas, você usou mulheres, digamos, comuns, reais, como sua mãe. Pretende continuar fazendo isso?
Sim, nesta coleção, chamei nove mulheres de cidades e idades diferentes para apresentar a coleção. Gosto da personalidade de verdade – dá vida às roupas!
Adoro estilista que enxerga a MODA além da roupa bonitinha!!!