Gloria Perez está exausta – sucesso também cansa. A escritora passou quase um ano em pé, escrevendo “A Força do Querer”, como faz em todas as novelas. O último capítulo foi ao ar nesse fim de semana. A autora e o elenco se reuniram num bar e restaurante perto do Projac, para assistir às últimas emoções da trama e comemorar muito. Gloria não vê a hora de descansar, e vai levar isso muito a sério – até março. Sua primeira parada será Portugal. “Não sei quando volto”, avisa. Nesse raro tempo livre, também pretende “arrumar gavetas, rever amigos, viver, viver…”. Não preciso falar mais, não é? Sucesso a gente não explica; só comprova e aplaude. Se conseguisse explicar, todo mundo faria. A propósito: neste domingo (22/10), Gloria recebeu mensagem de agradecimento da Polícia Militar do Rio “por mostrar um pouco mais dessa profissão tão importante”. Na ficção, Paolla Oliveira representou a major Jeiza – o que virou uma das grandes atrações. Com vocês, algumas palavras da mulher que, nos últimos meses, praticamente parou o Brasil.
Você esperava tanto sucesso? No seu dia a dia isso muda o quê?
A gente escreve buscando o sucesso, e é bom demais quando ele vem. No dia a dia, o que muda é que vou pegar uns meses de férias.
Como as redes sociais mostram para você a reação do público? E isso interferiu em algum caminho na trama?
No Twitter, você tem de usar muito filtro porque tem muitos fakes, muita panfletagem. Mas tem muita coisa que vale a pena também. A repercussão das ruas te dá uma medida mais clara. A gente escuta o público, mas não para mudar a história. Se eles não entendem algo, você tem que fazer de maneira diferente, mas, para chegar ao mesmo lugar que estava planejado… Leio cada coisa no Twitter!
Não podemos deixar de falar do sucesso da personagem transgênero Ivana/Ivan (Carol Duarte). Como você viu a reação do público?
O público abraçou Ivana/Ivan, acolheu a personagem. Mesmo pessoas muito conservadoras se sensibilizaram. O resultado foi surpreendente e exigiu muito de todos nós que isso fosse passado com verdade. O segredo foi criar primeiro uma empatia dela com o público.
Alguma ONG já te chamou como convidada/homenageada de algum evento LGBT?
Sim, ganhei dois prêmios muito especiais, que vou guardar com muito carinho: o Gloria Perez, do Concurso de Talentos de Dublagem Gay e o Viado de Ouro, na festa do Cirio de Nazaré.
Soube de alguma história real em que conservadores ficaram mais sensibilizados depois da novela?
Muitas histórias. São muitas mensagens, muitas cartas, muitas pessoas que param você na rua para contar uma história em que foram compreendidos pela família ou conseguiram compreender e começar a conversar com algum trans da família.
Nesses casos, pode-se dizer que você alcançou a sua intenção?
Acredito que sim. Conseguimos a empatia do público: é o limite aonde a novela pode chegar.
Quando escreve uma novela, você pensa além do entretenimento e do sucesso comercial?
Penso sempre em levantar debates, em jogar na mesa assuntos sobre os quais precisamos conversar.
Qual o maior retorno no sentido de alcance social uma novela lhe trouxe mudando vidas ou algo assim?
Não dá para destacar prioridades. Tocamos em vidas, falando de trans, de ciganos, de esquizofrenia, de compulsão por compras, por jogo, crianças desaparecidas, trafico de pessoas, transplante de órgãos etc., etc.
Sobre a crise do formato e a popularização das séries, as principais críticas são que as novelas são lentas. Qual o segredo para dar ritmo a um folhetim?
As novelas têm o ritmo do seu tempo. Propusemo-nos a fazer uma novela, sem nenhuma intenção de que ela parecesse com série ou com cinema.
Quais os seus planos de férias?
Viajar, arrumar gavetas, rever amigos, viver, viver…
O recado foi dado. Vamos ouvir mais o outro, e lapidar as adversidades.