Betty Lago morreu na manhã deste domingo (13), aos 60 anos, de câncer na vesícula, em sua casa, no Leblon, já lotada de amigos. A ex-modelo e atriz “brigava” com a doença desde 2012, quando recebeu o diagnóstico. Betty falou em uma de suas últimas entrevistas aqui à coluna, este ano, que a doença reapareceu recentemente. Sempre mostrando força com muita valentia, não escondendo de ninguém a fase que enfrentou, enfeitava-se com chapéus, sem disfarçar a careca nos eventos sociais, que continuava frequentando. Betty disse ainda: “A cabeça da gente se influencia por tudo. Voltei ao tratamento, desta vez já conhecendo as regras, o que deixa tudo mais brando. Não sou doente, sou alguém em tratamento. Continuo fazendo as coisas, só evitando gordura e álcool.”
Sincera e original (“Meu defeito é falar o que penso. Só arrumo encrenca”, dizia), ela deixa dois filhos, Bernardo e Patricia e muitos, muitos amigos, principalmente na cidade carioca, onde era queridíssima: “A gente, às vezes, pensa que é o máximo, e é uma merdinha”, declarou ao site no começo deste ano. Em junho, falou sobre homofobia.
Seu primeiro papel na TV foi na minissérie “Anos Rebeldes”, de Gilberto Braga, em 1992. Na Globo, foi também protagonista da novela “Quatro por Quatro”. Na TV fechada, Betty estreou como apresentadora no programa GNT Fashion em 2005, no canal de mesmo nome. Ela também participou como debatedora dos programas “Saia Justa” e “Pirei – Com Betty Lago”, sempre com sucesso. Atualmente, Betty estava participando da quarta temporada do programa “Desafio na Beleza”, no mesmo canal, ao lado da modelo Mariana Weickert e do maquiador Daniel Hernandez. O trabalho mais recente da atriz foi na novela “Pecado Mortal”, da TV Record. Lá se foi irreverência, autenticidade, coragem, humor, alegria de viver, determinação e outras tantas qualidades humanas.
Leia uma das suas últimas entrevistas:
UMA LOUCURA: “Loucura seria ir morar no Japão. Iria e ficaria lá dois anos, feliz, com meu amor. Já passei temporadas lá – fui umas seis vezes.”
UMA ROUBADA: “O verão é uma roubada, não aguento este calor. Costumo também me meter com pessoas que são uma roubada.”
UMA IDEIA FIXA: “As ideias fixas são tantas – dirigir cinema é uma delas. Quando tive programa noGNT Fashion (por cinco anos), era dirigido por mim.”
UM PORRE: “Um porre é fã abusivo. Tipo: você tá num restaurante com o garfo na boca, e vem alguém perguntar: ‘Posso tirar uma foto?’”
UMA FRUSTRAÇÃO: “Realizo tantas coisas que esqueço as frustrações; nem uso essa palavra. Cruz credo! Lembrei uma: não ter feito o primeiro filme de Beto Brant, “Os matadores”. A gente, às vezes, pensa que é o máximo e é uma merdinha.”
UM APAGÃO: “Tive um apagão por efeito da quimioterapia, mas foi no começo do tratamento. Dei dois passos e caí no box, na minha casa. Não entendia o que acontecia. De repente, eu esquecia que estava com problema. Na verdade, se não me olho no espelho, nem lembro que estou careca.”
UMA SÍNDROME: “Não tenho, não. Achar que sabe tudo é síndrome?”
UM MEDO: “Meu medo é clichê, de não estar em todos os lugares do mundo que quero. Desde 1996 vim morar de vez no Rio, minha cidade na vida. Tenho ainda medo do ego das outras pessoas, não compreendo. O dinheiro e o sucesso transformam algumas criaturas. É um medo abstrato, mas é medo – que merda! Medo de morrer eu não tenho, principalmente depois de ter lido “Autobiografia de um iogue” (do Paramahansa Yogananda), que ganhei da astróloga Maria Eugênia.”
UM DEFEITO: “Meu defeito é falar o que penso. Só arrumo encrenca.”
UM DESPRAZER: “O câncer tem um lado louco, é um desprazer momentâneo, mas quem passa por isso sabe que tem que passar. Eu entrei pra operar uma vesícula; no dia seguinte, vieram três médicos. Um deles disse: ‘Fomos tirar a vesícula e encontramos outra coisa.’ Eu levei tal choque, que trincava meus dentes. O susto foi do tamanho do que senti ao entrar na primeira vez na quimio. Agora, vou lá, faço, já converso com todo mundo. Transformei o que é pesado numa coisa leve.”
UM INSUCESSO: “Insucesso é novela que não dá certo, é o reverso da moeda. O contrário do insucesso é a nota 10 na Patricia Kogut – fica tanta gente com inveja, que nem dá parabéns.”
UM IMPULSO: “Tenho tantos… Um deles é chegar em casa, pegar o passaporte e ir……”
UMA PARANOIA: “Tenho paranoia de ser rejeitada.”